PRIVAÇÃO DE SONO aumenta risco de diabetes, depressão, cancro e doenças cardiovasculares
A neurologista Teresa Paiva alertou sábado, no Porto, para os efeitos da redução do sono ou do dormir em excesso, associando-os a um risco aumentado de hipertensão arterial, diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares, cancro, depressão e de acidentes, avança a agência Lusa.
“O que as pessoas têm de perceber é que para além destes efeitos orgânicos sobre a saúde, reduzir o sono tem outros efeitos muito mais complicados ao nível da cognição. As pessoas começam a pensar mal, a ter graves problemas de memória, a ter lapsos e, fundamentalmente, perdem os seus equilíbrios emocionais”, afirmou em declarações à Lusa.
Teresa Paiva, que sábado abordou no Simpósio Aquém e Além do Cérebro as “Relações mútuas entre sono, sonhos e sociedade”, salientou que “tanto a parte cognitiva, como a emocional são altamente recicladas e reorganizadas no sono e, portanto, não dormir é extremamente perigoso”.
Segundo a investigadora, os portugueses são os que se deitam mais tarde no mundo. “Setenta por cento da população vai para a cama depois da meia-noite, mas o grave não é deitarem-se tarde, é deitarem-se tarde e levantarem-se cedo”, considerou.
Na actual situação de crise, Teresa Paiva citou a sua experiência clínica e existencial para afirmar que os casos de insónia têm vindo a aumentar e as queixas apresentadas também são diferentes.
“As coisas que lhes são lesivas são diferentes das que apresentavam anteriormente. Agora, é muito mais a ameaça de desemprego, o desemprego dos filhos, o trabalho instável, o trabalho em excesso com medo de perder o emprego, os encargos financeiros ou os créditos, às vezes de familiares de quem foram fiadores”, explicou.
De acordo com a sua experiência, uma vez que ainda não há estudos científicos sobre o assunto, “os paradigmas são agora bastante diferentes dos que eram anteriormente”. Teresa Paiva considera que o clima que se vive no país é “extremamente negativo para a saúde das pessoas, que ficam deprimidíssimas com tudo o que ouvem”.
Defende, por isso, a necessidade de transmitir “mensagens de esperança”, porque “não se cura um doente dizendo-lhe que está muito mal e vai morrer. Os mecanismos de cura são iguais quer nos indivíduos quer nas sociedades, tem de se abrir a caixinha de pandora para saírem os demónios, mas também a esperança”.
“Se calhar eu e uma pessoa com insónia dormimos da mesma maneira. A única diferença é que eu não me importo minimamente e gosto da forma como durmo e ela importa-se imenso. Esta perspectiva pessimista em relação ao seu sono, vida ou ao seu país é que é lesiva e leva à doença”, exemplificou.
Assim, insiste a investigadora, “a perspectiva que se tem sobre as coisas e a mudança de comportamentos são muito importantes. Devem assumir-se bons comportamentos de saúde, como dormir as horas necessárias e de forma regular, comer bem, fazer exercício físico, que não seja à noite, e reduzir a actividade excessiva”.
“Se eu quisesse via doentes até a meia-noite, mas não aguentaria. A pressão da sociedade não nos tornou mais ricos nem nos tornou felizes”, frisou.
As perturbações do sono situam-se entre as perturbações cerebrais mais dispendiosas na Europa. Em 2010, foram gastos 35,4 mil milhões de euros, ocupando a 9.ª posição num grupo de 19 perturbações.
A neurologista defende que a sociedade e os serviços de saúde são obrigados a prestar atenção aos números actuais.
“No caso de não ser desencadeada qualquer acção, as actuais influências entre sociedade, sono e sonhos podem resultar num cenário dramático: os indivíduos esforçados e lutadores podem tornar-se depressivos, esquecidos e doentes e transformar-se em cidadãos incapazes de agir e cooperar de modo eficiente com a sociedade actual, altamente exigente”, sustentou.
Esta investigadora tem-se manifestado contra o excessivo consumo de medicamentos para dormir. “Há estudos que provam que quem toma regularmente hipnóticos sofre um aumento do risco de morte precoce e de cancro”, afirmou. JN
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